26.2.13

ainda é segredo, mas joachim koerper vai abrir o 12 by eleven, cozinha de bistrot, no dia 12 de março

[Joachim Koerper (foto de divulgação) e alguns dos pratos-teste que poderão ou não figurar na ementa do novo bistrot 12 by Eleven (©thema hotels, todos os direitos reservados)]

Aos poucos, numa operação de charme do tipo "for your eyes only", Miguel Júdice, o CEO dos Thema Hotels abro parêntesis se ainda não deram por isso, o grupo Lágrimas uniu-se aos Hotéis Alexandre Almeida e nasceu a designação Thema Hotels fecho parêntesis, tem vindo a "postar" fotos com a prova de pratos de um novo restaurante.

Um teaser, pois então, que as redes sociais como o Instagram servem, cada vez mais, para isso mesmo.

Mas não se descoseu a quem, pela mesma via, lhe tem perguntado do que se trata. Certo, certo, só mesmo a data de abertura do novo espaço em Lisboa: 12 de março.

[Alguns dos pratos-teste cujas fotos têm vindo a ser publicadas, como teaser, no Instagram dos Thema Hotels (©thema hotels, todos os direitos reservados)]

Mas, nestas coisas, o segredo nem sempre é a alma do negócio. E consegui saber o que queria.

No mesmo espaço onde funciona o Eleven, ou seja, no Jardim Amália Rodrigues, no cimo do Parque Eduardo VII com uma vista do tipo até-onde-vai-o-teu-olhar sobre a cidade, Joachim Koerper e os seus dez outros sócios voltarão a fazer numerologia.

12 by Eleven, assim se deve chamar, ficará no primeiro andar, até agora reservado a eventos, e será uma forma de Koerper se adaptar aos tempos que correm e, a preços que se adivinham mais friendly, servirá ali uma cozinha de bistrot.

É esperar para ver e provar.

18.2.13

a vez e a hora de diogo noronha no pedro e o lobo

[Diogo Noronha, agora a solo (foto de divulgação editada por jms)]

São raras as duplas nas cozinhas. 

Ainda mais raras são aquelas que persistem para além de um certo tempo. E Pedro e o Lobo não foi a exceção que confirmou a regra. 

Desfeita a parceria com Nuno Bergonse, co-fundador do restaurante lisboeta, coube a Diogo Noronha (e aos dois outros sócios que se mantiveram no projeto) agarrar o touro pelos cornos e tratar de imprimir a sua marca. 

Sem ruturas.
Sem alardes. 

[Mantém-se a tónica vintage, mas simplificou-se (foto de divulgação editada por jms)]

Numa altura em que a crise no setor da restauração obriga a atenção e engenho redobrados, o desafio do jovem chef é ainda maior: “Éramos uma dupla e a minha primeira preocupação foi a de reestruturar a cozinha. Estávamos sempre os dois presentes e apoiávamo-nos muito um no outro, o que era bom, mas também acabou por ser uma sobrecarga muito grande. Agora procuro ajustar a estrutura de forma a que haja uma evolução sustentável e que eu, estando presente o mais possível (porque sou cozinheiro e é cozinheiro que quero continuar a ser), possa também dar respostas a outras coisas que me são pedidas”, começou por me dizer. 

[Maior informalidade sem toalhas de mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Faz sentido. Com uma clientela fiel nos almoços (cerca de 90% são recorrentes), que marca presença igualmente ao jantar não raras vezes (a clientela estrangeira varia muito em função dos picos de turismo da própria cidade), Noronha sabe que, a partir de agora, dispõe de margem “para praticar uma cozinha mais autoral”, mas que, por outro lado, não pode nem quer defraudar os quem têm no Pedro e o Lobo uma escolha segura: “Estou a criar uma identidade, mas faço questão de manter nas minhas cartas coisas do passado”, assegura-me. 

[Por dicas dos clientes, o serviço também está mais ágil (foto de divulgação editada por jms)]

Mas a mudança está lá. Subtil, mas está. E sente-se logo na sala, no próprio serviço e até no conceito. A tónica vintage permanece (ainda bem!), com clara influência nórdica e das décadas 1950-1960, mas desapareceram as toalhas de mesa, simplificou-se o atendimento (por observação própria e pelos reparos dos clientes) e imprimiu-se na carta um tipo de estrutura mais aberta que incentiva e facilita a partilha de pratos. 

[Pipocas de novilho, nas entradas, para comer com as mãos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A época de contenção — “em que as pessoas saem menos para jantar e quando o fazem arriscam menos”, constata sem dramas — a isso leva, não tenho ilusões a respeito, mas não é tão limitadora como possa parecer a quem olha (e julga) de fora: “Tenho uma inquietude autoral, mas consigo um equilíbrio entre o que eu quero e o que os clientes desejam”, remata.  Parece-me sincero. 

[O ovo cozido a 62 graus tal como vem para a mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Na prática, isso traduz-se na manutenção de um menu executivo ao almoço (a partir de 20 euros), que muda todas as semana e onde tenta que haja sempre um clássico da cozinha com um toque pessoal, e de um menu de degustação aos jantares (agora mais barato, a 38 euros por pessoa, sem bebidas), onde se permite arriscar mais e incluir pratos menos consensuais como as molejas com nozes em picles e agriões. 

[Mas é preciso enfiar a colher para descobrir o ovo... (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Transversal num caso e noutro, a opção à carta onde fará questão de ter sempre dois ou três pratos mais “comuns” para que ninguém saia da sua área de conforto e onde, sempre que necessário, introduzirá pequenos ajustes nos ingredientes e nas guarnições — “E se tiver de tirar um prato para colocar outro, faço-o sem problema”. 

[... e misturar todas as texturas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

De caras, o que me deixou curioso foi notar que a mesma simplicidade que senti ao percorrer a carta — as escolhas agupam-se em entradas, pratos principais, arrozes e sobremesas, com uma variação de preços muito razoável — passava para o meu palato à medida que ia saboreando entradas como o Ovo cozido a 62 graus (com mousse de queijo de Seia e migas de payola), as Pipocas de novilho (com porco e arroz com sal de aipo e molho de Dijon), as Lulas recheadas (com tostas de pão com chouriço e caldo de pimentos) e pratos como a Massada fresca de salmonete (seus fígados, ostras e azeitonas verdes) ou a Meia esfera de perdiz e foie (com mini nabos, emulsão de pimenta verde, Madeira e alho negro). 

[Massada fresca de salmonete (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas é uma simplicidade enganadora, meus caros. Ou se é.

[A meia esfera de perdiz e foie (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Noronha pode até ter jogado pelo seguro em certas áreas do negócio — crise oblige —, mas por outro lado expõe-se bem mais do que muitos imaginam ao enveredar por uma corrente mais naturalista, em que sobressaem os ingredientes, as texturas e o sabor. 

[Nas sobremesas , há sempre uma tarte do dia no menu executivo ao almoço (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O lado lúdico, e a elegância estilística no empratamento, continuam lá, mas há menos espumas, ares… e mais substância (até mesmo na inclusão dos caldos, pelo menos enquanto fizer mais frio, que acrescentam estrutura e maior complexidade a pratos como o da perdiz, um dos meus predilectos). 

[Diogo Noronha sempre na cozinha, mas a partir de agora um sócio mais interveniente também (foto de divulgação editada por jms)]

É um risco, porque, como ele mesmo mo admitiu, “o rigor e a exigência são muito maiores” já que a simplicidade implica sempre um maior controlo da qualidade. “Execução e a parte conceptual, esse é o grande desafio”, partilha Noronha deixando já antever que a sua aposta está para durar e que dará o que falar (e sentir) nas próximas cartas. 

[Avelãs em diferentes texturas e bolhas de cacau (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No final, sobre a mesa há uma sobremesa da atual carta a que muitos, em são juízo, serão incapazes de torcer o nariz: avelã, sablé, avelãs caramelizadas e bolhas de cacau. 

Deixa-me um gostinho na boca de quero mais. Tal como a cozinha de Noronha. Por isso fiz questão de voltar ali, já acompanhado de amigos, num jantar na véspera de Carnaval — fí-los provar vários pratos que havia degustado antes. Mais do que a opinião deles, queria ver como reagiam. 

Bingo. O que aumenta a fasquia e a minha curiosidade para os próximos capítulos desta história.  

[O que escrevi antes sobre este restaurante aqui e aqui]

Rua do Salitre, nº169, tel. 211 933 719, aberto de seg. a sex. , das 13.00 às 15.00 e das 20.00 às 23.00; ao sáb., das 20.00 às 23.00

7.2.13

ano novo, cara nova e mesa para muitos... está assim o flores do bairro

[Foram-se as toalhas de mesa e entrou a cor (foto de divulgação)]

Os anos passam. 

Até mesmo para os hotéis. 

Aberto em 2005, o Bairro Alto Hotel (BHA) depressa tornou-se um ponto de encontro, para lisboetas da gema e do coração, entre a elegância do Chiado e a boémia do Bairro. 

[Picar e partilhar são os verbos a conjugar nesta nova fase do Flores (foto de divulgação)]

Perdemos todos a conta às vezes em que o seu bar-terraço, perfeito ninho de cucos para ver a cidade ribeirinha de cima, foi eleito um dos mais desejados a nível internacional dentro do seu género. Mais abaixo, qual par de jarras a escoltar a menina e moça receção, o café-bar BA e o restaurante Flores também ajudaram a somar pontos e a amealhar, mais do que clientes, amigos. 

Mas porque um hotel não pode nem deve dormir na forma, o BHA achou por bem encerrar as portas entre o final de 2012 e o começo de 2013 para sacudir a poeira, renovar a pintura, substituir o que já acusava cansaço e adaptar-se às novas vontades. 

[Mudou a decoração, mas o homem ao leme continua a ser Vasco Lello (foto de divulgação)]

Reabriu dia 1 de fevereiro, sem alardes, mais contemporâneo e menos formal. O Flores do Bairro (como se passou a chamar) é disso a prova maior. As mesas libertaram-se das toalhas, a loiça e os tachos de ferro fundido remetem-nos, ainda que estilizadamente, para a tradição portuguesa e há luminárias, arranjos de flores, tecidos e até um aparador, a pièce de resistence, coloridos. 

Não se perdeu a classe. Ganhou-se foi uma maneira de estar mais adequada ao público que se pretende preservar e ganhar. 

Meses atrás, quando Vasco Lello, o jovem chef que se mantém ao leme do Flores do Bairro, introduziu na carta uma versão do bitoque (ler aqui) era já um prenúncio de mudança. 

[A loiça remete-nos à tradição portuguesa (foto de divulgação)]

De nada adiantaria mudar a forma sem mexer no conteúdo, por isso Lello marca a presente temporada do Flores do Bairro com petiscos e pratos que todos reconhecemos, na sua base, do receituário tradicional, a que ele deu a volta para os chamar de seus. 

Não é um propósito novo, convenhamos (sobretudo numa época de tanta tasca e taberna da nova geração em Lisboa), mas Lello consegue, sem a pretensão de ser mais do que é, algumas soluções que, helàs, não nos soam nem sabem a mais do mesmo. 

E se os hábitos mudaram e a Troika obriga a que muitos portugueses façam agora mais contas na hora de ir comer fora, o Flores dá provas de sensatez e apresenta fórmulas que incentivam, a bom custo, o petisco e a partilha à mesa. 

Sem choradinhos. 

[Cabeça de xara com saladinha de favas (foto de divulgação)]

Nas entradas, para picar (desde três euros), destaque para a cabeça de xara com saladinha de favas, os peixinhos da horta com molho romanesco ou a açorda de lascas de bacalhau, pimento vermelho e ovo escalfado. 

[Chips de corvina e arroz de berbigão (foto de divulgação)]

Nos peixes, provei e gostei do arroz de berbigão com chips de corvina.

[Cabritinho assado com alecrim (foto de divulgação)]
[Empada de perdiz (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas carnes, o meu coração bateu mais forte pela empada de perdiz, mas a perna de cabritinho assado com alecrim também não fez feio.
[Pêra com chocolate, requeijão e biscoitos de amêndoa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas sobremesas, vale a pena reservar apetite para meter a colher na pêra com chocolate, requeijão e biscoito de amêndoa, no crumble de maçã e nos papos de anjo com frutos vermelhos. 

[Crumble de maçã (©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Escusado será acrescentar, à laia de conclusão, que a mesa comum no centro da sala não é mera figura de retórica. 

[Papos de Anjo com sorvete de frutos vermelhos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Vá e leve um amigo. 

[Tarte de chocolate com ganache (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ou dois. Ou três.

Bairro Alto Hotel | Praça Luís de Camões, 2, almoços das 13.00 às 15.00 (menu executivo a € 18,50) e jantares das 19.30 à`s 23.00 
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