24.6.12

um menu, tintim por tintim, da nova carta de verão do pedro e o lobo

[Diogo Noronha de Andrade e Nuno Bergonse (foto de divulgação editada por jms)]

Em praticamente dois anos de casa aberta, o restaurante Pedro e o Lobo continua, volta e meia, a ser notícia e a embelezar as páginas de jornais e revistas. Deve ser bom sinal.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Dias atrás, porém, vi uma das últimas produções fotográficas da dupla de chefs, o Nuno Bergonse e o Diogo Noronha de Andrade, e numa das fotos aparecia um deles — já não me lembro qual — a fazer o pino...

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Percebo o espírito da coisa e até concordo que combina com uma certa irreverência e ideia de "cozinha atrevida" que querem passar, mas, a verdade é que não são precisas piruetas ou cambalhotas para repararmos neles ou no trabalho que têm vindo a desenvolver.

[A focaccia e o pão de tomate, entre as opções no couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Sobre o restaurante e os chefs não me vou alongar muito mais, até porque já contei a história antes aquirecordo o essencial: dois jovens chefs de apenas 32 (Diogo) e 25 anos (Nuno), o que lhes dá ainda uma boa margem de progressão; cinco sócios (além dos chefs, José Maria Vieira da Silva, Luís Baptista e Patrícia Baptista); uma decoração nórdica-industrial com um toque rétro dos anos 1950; uma cozinha contemporânea, com influências portuguesa e mediterrânica.

[A abrir, o amuse-bouche (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Há uma semana apresentaram oficialmente a nova ementa de verão, com direito a uma versão especial do menu de degustação que passo a mostrar e a comentar, tintim por tintim, de seguida. Antes, adianto-me e digo já que, tirando uma certa insistência em puxar quase ao limite a dicotomia doce-salgado em certos pratos (uma tendência que já lhes vem de trás), gostei do que vi e provei — visualmente, o empratamento foi sempre muito equilibrado, com composições quase poéticas; pelo menos dois pratos (uma entrada e uma sobremesa) ficaram-me na memória, o que é um feito e tanto se levarmos em conta que, nos últimos tempos, só não perdi a conta a todas as degustações que fiz porque tenho registo das mesmas.

[O creme e a caracoleta assada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A abrir os trabalhos, um amuse-bouche, servido sobre ardósia, com ovas de pescada, chip e barriga de porco. A acompanhar um Cartuxa Espumante Bruto Rosé. Agradável, mas o que me arrebatou (e a quem partilhava a mesa comigo) foi um creme de alho e amêndoas, que levava ainda alfaces e rabanetes e... uma caracoleta assada. Bonito de ver e muito, muito saboroso de comer. A caracoleta vinha fora da concha, mas esta última não estava vazia... No interior, parte do creme, aveludado, e uma decisão a tomar: sorve-lo diretamente da fonte, como se faz com os caracóis, ou misturá-lo no prato. Interessante também a amêndoa torrada inteira, a introduzir uma nota de crocância.

[O pato com cenoura (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ainda nas entradas, e mantendo o Cartuxa branco de 2009, um naco de pato com várias texturas: cenoura, requeijão e gengibre. Foi uma das tais composições em que o salgado e o doce foram levados quase ao limite. Eu não iria, talvez, tão longe, mas admito que seja uma questão de paladar.

[O atum, mas não só (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Voltamos a um Cartuxa Espumante Bruto, mas desta feita um Reserva de 2008. Boa escolha para acompanhar o atum patudo, apenas ligeiramente rosado comme il faut, com abacate, cayenne migada, vinagreta de anchovas e coentros e, o toque mais marcante, beterraba. Atentos ao regresso desta herbácea à alta gastronomia, depois de anos e anos votada ao ostracismo, os chefs apresentaram-na em duas consistências diferentes.

[O Redondo de novilho (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O roxo haveria de dar novo ar da sua graça no próximo prato de carne. Confesso que estou um pouco cansado do recurso ao redondo de novilho, mas achei interessante a sua conjugação com chalotas, couve roxa, laranja, tutano e algas. Em conjunto deram um travo ácido, quase amargo, que cortou bem a carne mais gorda. Para beber, um Cartuxa tinto, Reserva de 2008.

[O Cremoso de sobremesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Depois de vários pratos, repito-me, a chegada da sobremesa pode revelar-se ingrata. Ela precisa ser realmente boa para vencer o nosso palato cansado e o estômago a pedir tréguas. Pois esta, eu tive de me controlar para não a devorar até ao fim. Para começar, um colírio para os olhos. Várias texturas, cremosas e crocantes, cortadas pelo cítrico do sorvete. Fixem este nome para pedirem uma igual: Cremoso negro, branco e natas, streuzel de amêndoas e chocolate, opalines e ginja.

[Petit fours de framboesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por ela não abri mão do café a encerrar, mas já só tive olhos, e não mais barriga, para apreciar os petit fours servidos no final: línguas de gato de framboesa e macarons de pistache. Um dó de alma, eu sei.

[Os macarons de pistache (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Uma última achega para acrescentar que o Pedro e o Lobo serve almoços e jantares, sempre à la carte, mas com a opção de menu executivo (entre 18 e 22 euros com um copo de vinho incluído) nos primeiros e menu de degustação (36 euros sem bebidas) nos segundos.

Rua do Salitre, 169, tel. 211 933 719, de seg. a sex., almoços entre as 13.00 e as 15.00; jantares entre as 20.00 e as 23.00; encerra sáb., ao almoço, e domingo, todo o dia

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