29.11.11

poison d'amour

[Maria Antonieta é uma das imagens de marca associadas à Poison d'Amour, a mais nova pastelaria fina do Príncipe Real; abaixo: a fachada (foto de divulgação)]
Antes que alguém diga que já vou tarde para falar da Poison d'Amour, eu adianto-me e explico.

Eu sei que a Poison d'Amour abriu em Agosto, mas quando isso aconteceu eu estava em vésperas de passar uma longa temporada fora de Lisboa e, tout court (e o francês neste caso calha bem), não deu tempo.

[A primeira coisa que vemos, mesmo antes de entrar, é o balcão das guloseimas (foto de divulgação)]

Enfim, mais vale tarde do que nunca, não é mesmo? Para mais, quero acreditar que, tal como foi para mim, a Poison d'Amour ainda seja não digo uma novidade, mas pelo menos um lugar a descobrir para muito boa gente.

[Barroco, mas não muito... (foto de divulgação)]

Quem escreve por último arrisca-se a não acrescentar nada de verdadeiramente novo ao que já foi dito, mas a vantagem é que, esfriado o entusiasmo, podemos também ser mais objetivos e menos passionais.

[Tons claros, paredes quase nuas para que sobressaia o que realmente interessa e também o que não interessa, como o extintor (foto de divulgação)]

Serve isto para dizer, a propósito da mais nova pastelaria-salão de chá-cafetaria do Príncipe Real, num dos trechos mais disputados da rua da Escola Politécnica, que tenho lido coisas maravilhosas e rasgados elogios. É, a fazer fé nos relatos praticamente unânimes, um pedacinho do céu de Paris em Lisboa.

[Outra perspetiva do salão principal (foto de divulgação)]

Mas ai, não sei bem porquê, eu só me consigo lembrar daquele fado de Amália em que ela, como ninguém, cantava "Lisboa não sejas francesa/ Com toda a certeza / Não vais ser feliz / (...) / Lisboa não sejas francesa / Tu és portuguesa".

[Arquitetura do atelier Alma Quadros e design de interiores de Susana Camelo (foto de divulgação)] 

A Poison d'Amour inspirou-se nas mais finas pâtisseries parisienses e não o esconde. Pelo contrário, faz gala nisso.


[O pátio traseiro, para os dias de sol, rodeado pelo Jardim Botânico (foto de divulgação)]


A fachada rosa, com largos janelões rasgados de cima a baixo, dá logo o mote e ninguém entra ali ao engano, até porque pela montra já dá para ir espreitando os macarons, os brioches, as tartelettes, as bavaroises, os pains aux raisins, entre outras coisas igualmente boas.


Ponto para a forma como as várias guloseimas estão expostas, num longo balcão com tampo de vidro, sem outros artifícios para nos desviarem a atenção do que realmente interessa. Os olhos não comem, mas são eles que nos fazem morder a isca.


Achei igualmente interessante a solução das paredes praticamente nuas, e brancas, em contraponto com o chão e o teto negros. À vista, arcos de pedra preservados e apontamentos barrocos.


[As tartelettes são as criações que mais dão nas vistas (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


É óbvia a intenção da decoradora de serviço — Susana Camelo — de não fazer da Poison d'Amour uma caricatura barroca. As referências estão lá, como o grande retrato da desafortunada rainha Maria Antonieta — incontornável patrone, sobretudo depois do filme de Sofia Coppola com o alto beneplácito da Ladurée —, os espelhos, as banquetas capitonadas, os lustres ou as cadeiras estilo Luís XVI, mas não são mais do que detalhes. 

Acho que resulta (só) até certo ponto. Como em tudo, há coisas mais bem conseguidas do que outras — divertido, por exemplo, o pormenor dos tabuleiros antropomórficos, na parede, com animais em poses reais —, mas, para começar, teria pensado numa outra solução para o extintor. Sei que é um "mal" necessário, imposto por lei inclusive, mas colocá-lo, à vista desarmada, num ponto estratégico do salão principal, nah, não me conformo.


[Doces tentações (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Com o Inverno à porta, é provável que não se dê muito uso à esplanada nas traseiras, com direito ao entorno bucólico do Jardim Botânico, mas, tratando-se de Lisboa, é sempre bom tê-la à mão para uma eventualidade. No resto, as duas salas interiores servem lindamente.

Por falar em servir, a Poison d'Amour abre para o pequeno-almoço, quer ser uma alternativa para o brunch de sábado e aos almoços tem, pelo menos, duas opções de saladas muito fiáveis (e com uma boa relação qualidade-preço).


[Maria Antonieta, a patrone da Poison d'Amour lisboeta (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Mas vou falar apenas do que sei. Fui ali, a uma hora do fecho, para lanchar. Hesitei, fiquei tentado a experimentar os macarons — mas lembrei-me que não tenho sido muito feliz nesse quesito em Lisboa; talvez o problema seja meu... —, acabando por me decidir por um clássico da pâtisserie française: uma tartelette de morangos (€3,80). 

Linda por fora, pareceu-me a escolha perfeita para acompanhar um chá Frais Fruite (€2,30), servido em porcelana azul. Tiro ao lado. Massa muito dura e um creme algo desenxabido. Melhor sorte teve um amigo, cuja bavaroise de ananás estava, essa sim, de comer e chorar por mais.


[Os macarons da Poison d'Amour (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]



Um empate, pois então. 

Na verdade, não me custará dar o benefício da dúvida à Poison d'Amour. Pedro Pouseiro, o dono, regressou a Lisboa depois de viver em Paris. Com fabrico próprio, a casa segue à risca o receituário de doçaria francesa, pelo que, quer o chefe pasteleiro, quer todo o material, vieram de França.


Para a próxima, vou escolher melhor. Quem sabe, não será dessa que me vou render aos macarons made in lisboa?

Rua da Escola Politécnica, 32, tel. 213 476 032, de seg. a sex., entre as 10.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 09.00 e as 20.00. Encerra ao dom.

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