3.5.11

bistro 100 maneiras

[O Bistro 100 Maneiras assentou arraiais no largo da Trindade, ao Bairro Alto, onde se divide por dois andares (em cima, a sala de baixo; abaixo, a sala de cima (fotos D.R.)]

Há coisa de uma semana, este post do crítico espanhol Carlos Maribona, que muitos seguem religiosamente no jornal ABC e no blog Salsa de Chiles, sobre o panorama actual da restauração em Lisboa suscitou inúmeras conversas cruzadas nas redes sociais. Uma delas, em que me acabei por envolver voluntariamente via Twitter — embora insista em reafirmar que não faço, nem pretendo fazer, crítica gastronómica, limitando-me antes ao exercício de informar e de partilhar as minhas impressões pessoais —, abordava a forma como a crise está também a reflectir-se — como não — numa diminuição drástica de clientes dispostos a pagar (bem) pelos prazeres da boa mesa em Portugal, o que reduz significativamente as chances de Lisboa atingir maior protagonismo na cena mundial da dita "alta" gastronomia — a revista Restaurant acabou de anunciar a lista dos melhores restaurantes do mundo em 2011, e o Vila Joya, no Algarve, foi o único português admitido a bordo, na 79ª posição num total de 100 eleitos.


Claro que esta realidade não tem só a ver com falta de dinheiro e de prioridades; passa também, e muito, pela falta de predisposição. Gostamos muito de comer bem, de conviver à mesa, mas não adquirimos necessariamente o hábito de pagar muito para o fazer a um nível mais sofisticado e elaborado. Chegados aqui, torna-se mais fácil compreender o "fenómeno" relativamente recente da abertura em catadupa — o que baralha alguns, que vêem nisso uma contradição aos tempos de contenção — de restaurantes mais pequenos e comerciais, pilotados por chefs que já provaram ser capazes de voar mais alto em outros pousos.

[Ljubomir Stanisic e uma das suas criações no Bistro, o hambúrguer de salmão (fotos de Fabrice DeMoulin)]

Não é propriamente o caso do Bistro 100 Maneiras do sérvio Ljubomir Stanisic, mas há tempo suficiente entre nós para já ter intuído muito do nosso código genético, se bem que, arrisco-me a dizer, também o é até certo ponto. Explico melhor. Ljubomir mantém o restaurante 100 Maneiras, um dos primeiros em Lisboa a introduzir um menu fixo de degustação sem carta (€40 por pessoa, sem bebidas, sendo famosos "clássicos" como o Estendal de Bacalhau), mas apostou no Bistro, que recuperou o espaço do antigo Bachus, para chegar a um público mais vasto.


Quem vir nisso motivo para desconfiança, adianto desde já que, no Bistro, nem a qualidade saiu a perder, nem o preço é assim tão mais baixo (feitas as contas, com vinho, dificilmente se sai de lá a pagar menos do que €35 por pessoa). Ljubomir, que tem sabido muito bem granjear simpatias e gerir as novas plataformas para se dar a conhecer — sendo bastante providencial a colaboração de Mónica Franco, ex-editora da revista Evasões —, teve também a inteligência de ir repescar certos utensílios portugueses — o pão do couvert vem em sacos de pano, a comida chega-nos à mesa em placas de xisto, em tachos e frigideiras de cobre e as sopas são servidas a partir de bules esmaltados —, demonstrando, ao mesmo tempo, tino e bom senso ao praticar uma cozinha contemporânea e criativa que, em vários casos, resulta da releitura do receituário nacional de petiscos (da secção "Para Corajosos" costumam constar molejas, túbaros ou passarinhos fritos).


Dividido por dois andares, onde predomina o branco e saltam à vista artigos directamente importados da loja A Vida Portuguesa, o Bistro é, em tempo de crise, um sucesso. E para isso não basta estar na moda — e a marca 100 maneiras está, disso não há dúvidas —, é preciso também acertar no ambiente (pode ou não gostar-se, mas o espaço funciona), no serviço (simpático e rápido, mesmo numa noite de casa cheia, com gente à espera) e, claro, no cardápio. O do Bistro consegue ser inesperado e divertido (até nos nomes das secções e dos pratos), equilibrando valores seguros como o risotto de cogumelos e camarão ou as bochechas de Porco Preto com novidades como o hambúrguer de salmão e parcerias garantidas como o Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. E tem vindo a mudar, aqui e ali, de forma a manter-se afinado com o gosto e apetites de quem lá vai e, por norma, repete a dose.


Largo da Trindade, 9, tel. 210 990 475 | 910 918 181, de seg. a sáb., entre as 18.00 e as 02.00
Experimente também fazer a sua reserva através da Best Tables, aqui

1 comentário:

Mónica disse...

Obrigada, João!!
Por pouco não apanhava este teu belo texto. :)
bjs, Mónica

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